quarta-feira, 25 de junho de 2014

hoje descobri que és tal e qual o café. és amargo e um tanto banal. as tuas palavras correm do açúcar branco , para a cor negra do grão. consegues perseguir trinta e uma sensações, e fazer com que eu sinta as tuas palavras perseguirem o meu corpo. bebo um travo de café, tento que não me queime a língua, já tu, sempre me persuades com o teu olhar como se uma labareda te envolve-se num ténue acto. e sabes, quando bebo café saboreio aquele gosto amargo durante horas, e peço que ele permaneça lá bem no inicio da minha garganta, que me aqueça o coração. tal como tu, o café é um dos diários que me dá prazer prescrever diariamente.
(bem sei que gostas de café, eu cá prefiro-te a ti)

domingo, 22 de junho de 2014

Posso exportar a minha sinceridade?
Não me perguntem porque é que eu nunca foi do tipo de ter melhores amigas. Não me perguntem porque é que no passado nunca tive uma pessoa a quem confiasse cada pequeno segredo que pudesse correr-me no sangue. Não me perguntem porque é que prefiro estar calada a dar a minha opinião.
Cada vez mais, de dia para dia, aprendo que para ser um ser humano integro e minimamente aceitável preciso de estar calada e suprimir todo e qualquer ímpeto que me assalte.
Cada um pensa em si, cada um se centra no seu próprio umbigo. Faço um esforço desmesurado para não julgar, criticar, vitimizar qualquer tipo de pessoa. Mas isso não chega. Não devo usar a minha ironia, pois não encontro apetência que a descodifique, não posso expressar o meu gosto porque atingi sempre quem de mim tem um pedacinho de coração, não posso ser eu porque magoa.
A dor de alguém que me está perto dilacera-me como se de um tornado se tratasse. Se o que é meu (por direito ou afeição) está na lama da desgraça, a minha alma será o seu espelho. Se me expressar contribuir para o afogamento dessas mesmas pessoas a quem posso chamar céu, eu interiorizo. Afinal, não é algo que não esteja habituada a fazer.
Vai na volta e descubro que foi tecida para carregar a dor de fazer sofrer que amo. É a tortura eterna, mas eu aprendo, aprendo a estar calada. Continuo a fechar-me em copas como tenho vindo a fazer ao longo dos anos. Se pensar bem, não sou ninguém para impingir aos outros o som da minha voz e o peso das minhas palavras. As minhas palavras que a cada dia se revelam mais uma praga que um dom.
Eu retraio-me. A partir de hoje, prometo que me retraio. E juro. Juro que ninguém vai dar por isso porque o que os ouvidos não ouvem a alma não sente. Talvez o meu destino seja o de nunca me dar a conhecer.
Por mais que tente demonstrar que só quero o bem, mais o retorno me empurra para o fundo do poço. Talvez tenha de me habituar que a perfeição não é o que idealizo, o que procuro. O problema é meu. A aceitação é o primeiro passo para a cura. Já aceitei a dor que provoco, a partir de agora é aprender a suprimir as palavras, a guardá-las só para mim.

terça-feira, 17 de junho de 2014

e o que és tu senão a razão de eu ser? e o que são os teus beijos senão o manto dos meus lábios? que são as tuas palavras senão a labareda da minha alma?
A minha pele, hoje, reclama os anos que perdeu por não te conhecer. Confessa-me ela que és o rejuvenescer, o derrame abismal da sensação de ter. Quando vens, chegas com o vento floral do sorriso de um gigante, imensidão de frescura! Trazes o calor da alma nas palmas da mão, e no olhar, no olhar guardas janelas de um mundo que é teu (um dia nosso, sempre nosso). O poder que exerces sobre a podridão do meu ser é de tal modo agigantada que despertas em mim o desejo violento de te dilacerar, de te receber e guardar, de te sufocar, corromper, desassociar de tudo que é real, para assim sermos eternos. E quando vais, o desfalecer é porta certa a ser ultrapassada, e a solidão abraça-me na obscuridade mais uma vez.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O frio.
Armazená-lo e injectá-lo fria e cruamente no coração. Sem aviso prévio. Um baque instantâneo e deixar o peso que ninguém quer ter amarrado às suas pernas. Dissolvo os meus problemas em cada sorriso teu e tento, ó se tento! arranca-los pela raiz no lamacento que é o meu subconsciente. Esforço-me, e espeto uma faca no meu peito cada vez que falho. Cada vez que tenho de dar a conhecer uma fragilidade. E luto. Luto contra a vontade de te falar dos meus problemas que não interessam nem ao mais benevolente das santinhas. Mas por vezes,



...expludo.
As lágrimas são o meu caminho da tranquilidade. As palavras assumem o papel mãe e embalam-nos até ser noite, até não termos força, até que a vida volte a fazer sentido. Nesses lodos da vida, só espero a tua mão ao teu lado. O egoísmo toma posse de mim e quero a tua atenção como os esfomeados querem uma migalha de pão. Deixas-me sôfrega de atenção. E sim, vou ser brava. Vou mandar-te embora. Mas internamente, o desejo é o de que te tornes em letras e que me abraces no conforto do teu amor. Sempre lá para ti. Podes gritar, mandar-me embora. Ao teu lado é o meu porto seguro, e confia quando digo que se esse porto seguro estiver a desabar, darei as entranhas para voltares a recompor-te. Exporto em ti todos os paraísos possíveis e imagináveis.
Um porto seguro. No seu verdadeiro significado. A implementação de ti na vida. És o título do qual não vou abdicar. Escreve na isto tua alma e enche o coração de mim. Sempre tua.
Descobri hoje que sou tudo o que nunca quis ser.
Sou carente, dependente, doente. Sou o fruto da insanidade do pensamento, dos sentimentos.
Descobri hoje que procuro na escrita o que não encontro nas pessoas.
A confidencialidade, a falta de julgamento, sempre pronta a dar e não exigir receber.
As pessoas são complicadas. Eu sou complicada. Mais do que queria. Pudesse eu ser um correr de palavras e era feliz!
Eis o problema da triste raça humana: o pensamento.
Sempre pronto a massacrar, sempre pronto a pressionar. Sempre lá. Sem fugir. A remoer, a dilacerar, a endoidecer.
Como é terrível esperar de alguém uma reacção que nos faça bem!
O ser humano é assim ilude-se para depois cair por terra. Entrega-se para depois ser abandonado. Ama para depois ser destroçado.
Os homens deviam ser como as letras. Quietas, sossegadinhas, sempre prontas a estar perto de nós. Não pedem nada essa belas criaturas. Escondem-se. Não se importam de ser segundo plano. Podem ver que estamos mal, mas não saem dali. Permanecem ali esperando o momento certo de nos abraçar e de nos mostrar o quanto nos amam. Ténues bailarinas que abraçam a causa de equilibrar o ego humano. Como é possível não esquecer os homens e entregar-mo-nos ás letras?