domingo, 22 de junho de 2014

Posso exportar a minha sinceridade?
Não me perguntem porque é que eu nunca foi do tipo de ter melhores amigas. Não me perguntem porque é que no passado nunca tive uma pessoa a quem confiasse cada pequeno segredo que pudesse correr-me no sangue. Não me perguntem porque é que prefiro estar calada a dar a minha opinião.
Cada vez mais, de dia para dia, aprendo que para ser um ser humano integro e minimamente aceitável preciso de estar calada e suprimir todo e qualquer ímpeto que me assalte.
Cada um pensa em si, cada um se centra no seu próprio umbigo. Faço um esforço desmesurado para não julgar, criticar, vitimizar qualquer tipo de pessoa. Mas isso não chega. Não devo usar a minha ironia, pois não encontro apetência que a descodifique, não posso expressar o meu gosto porque atingi sempre quem de mim tem um pedacinho de coração, não posso ser eu porque magoa.
A dor de alguém que me está perto dilacera-me como se de um tornado se tratasse. Se o que é meu (por direito ou afeição) está na lama da desgraça, a minha alma será o seu espelho. Se me expressar contribuir para o afogamento dessas mesmas pessoas a quem posso chamar céu, eu interiorizo. Afinal, não é algo que não esteja habituada a fazer.
Vai na volta e descubro que foi tecida para carregar a dor de fazer sofrer que amo. É a tortura eterna, mas eu aprendo, aprendo a estar calada. Continuo a fechar-me em copas como tenho vindo a fazer ao longo dos anos. Se pensar bem, não sou ninguém para impingir aos outros o som da minha voz e o peso das minhas palavras. As minhas palavras que a cada dia se revelam mais uma praga que um dom.
Eu retraio-me. A partir de hoje, prometo que me retraio. E juro. Juro que ninguém vai dar por isso porque o que os ouvidos não ouvem a alma não sente. Talvez o meu destino seja o de nunca me dar a conhecer.
Por mais que tente demonstrar que só quero o bem, mais o retorno me empurra para o fundo do poço. Talvez tenha de me habituar que a perfeição não é o que idealizo, o que procuro. O problema é meu. A aceitação é o primeiro passo para a cura. Já aceitei a dor que provoco, a partir de agora é aprender a suprimir as palavras, a guardá-las só para mim.

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